Sobre o NIPEEA

Texto escrito por Martha Tristão (Coordenadora do NIPEEA)



Foto: Soler Gonzalez
A proposta de criação do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudo em Educação Ambiental (NIPEEA) emerge da necessidade de integração entre projetos que envolvam ensino, pesquisa e extensão, com vistas a consolidação de um grupo formado por professores/as, alunos/as dos cursos de graduação, do Mestrado e Doutorado em Educação do Programa de Pós-Graduação do Centro de Educação (PPGE) da UFES e de egressos/as interessados/as.

Com a consolidação de um grupo engajado em 2005, cria-se um espaço de continuidade de pesquisas já realizadas, de possibilidades de novos projetos acadêmicos sobre a Educação Ambiental em contextos escolares e não-escolares de aprendizagens e de formação.

Nosso movimento hoje se organiza a partir de ações bem diversificadas, estabelecendo uma unidade entre os participantes ao nos inserirmos em projetos de pesquisas, processos de formação em Educação Ambiental e no engajamento político que potencializa e fortalece o grupo. Assim realizamos: promoção de seminários entre pesquisadores/as para debates teóricos e discussão das pesquisas em curso, realização de encontros estaduais de Educação Ambiental, organização e elaboração de Anais, atuação em disciplinas na graduação e na pós-graduação, participação na formulação e implementação de políticas públicas, atuação na organização em redes – Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA) e Rede Capixaba de Educação Ambiental (RECEA) e, mais recentemente integramos a Rede de Formação para a diversidade na elaboração de materiais didáticos e na promoção de um Curso de Atualização em Educação Ambiental a distância, junto à Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação e Cultura – SECAD/MEC.

O NIPEEA também impulsionou o projeto de extensão Fortalecendo a Rede Capixaba de Educação Ambiental e possibilitou a ampliação do Diagnóstico do Estado da Arte da Educação Ambiental no Espírito Santo. A RECEA é fruto de um desejo coletivo dos/as educadores/as ambientais capixabas de estarem juntos em espaços virtuais (lista de discussão na internet) e em encontros presenciais, para trocar idéias, informações, experiências e potencializar ações.

Além disso, dialogamos formalmente com pesquisadores do TEIA, grupo de pesquisa em Educação Ambiental da USP, do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental (GPEA) da UFMT e do Grupo Cultura, ambiente e educação da PUCRS.



Foto: Flávia Nascimento

Temáticas problematizadoras das Pesquisas

As pesquisas desenvolvidas pelo NIPEEA em níveis de mestrado e doutorado estão inseridas na Linha de Cultura, Currículo e Formação de educadores do PPGE/UFES, cuja proposição em sua ementa é a de abranger questões relacionadas com o currículo e com o processo de formação de educadores em suas dimensões sócio-histórica e socioambiental.

Mesmo com temáticas de investigação/preocupação diferentes entre as pesquisas, o grupo se aproxima de um enfoque teórico e metodológico comum. O compartilhamento das pesquisas e as orientações coletivas permitem que, ao nos depararmos com olhar do outro, identifiquemos lacunas e façamos novas descobertas em nossas trajetórias.
Até o momento, foram defendidas 20 dissertações de Mestrado e uma tese de Doutorado. Estão em curso 5 dissertações e 6 teses de Doutorado em Educação Ambiental, ligadas ao NIPEEA/PPGE/UFES.



Foto: Andréia Ramos
1. Processos globalizadores e identificações culturais

Sobre as implicações da globalização cultural hegemônica centralizamos nossas preocupações em elementos que consideram as novas configurações sociais e culturais: as relações pós-colanialistas entre os processos globalizadores e comunidades tradicionais ou povos subjugados; questões de política de identidades e ocupação de território com ênfase no multiculturalismo; impacto das novas tecnologias e produções culturais sobre a produção/fabricação de sujeitos, identidades e escolas. Como o ponto de vista, a cultura e as narrativas de grupos subalternos podem ser introduzidos nas propostas de Educação Ambiental?

Para tanto, dialogamos estreitamente (para citar apenas alguns) com Morin que convida-nos a pensar a complexidade desse tempo, com Certeau sobre as práticas políticas e sociais cotidianas com seu entendimento do espaço como lugar praticado, com Maturana e com Mafessoli, o primeiro com seu conceito de autopoiese, sendo ambos com propostas de uma razão mais sensível, mais emocionada.

Na perspectiva pós-colonialista aprofundamos o debate sobre as relações de poder entre culturas dominadas e culturas dominantes que tem caracterizado os movimentos emancipatórios. Quanto aos processos homogeneizantes e globalizadores da cultura, o pressuposto é o de que existem formação de novas identificações culturais. O autor que nos ajuda a compreender a diáspora cultural da globalização é Stuart Hall.


Foto: Katia Castor
2. Emergências de novos movimentos ecologistas e identidades sociais

A Educação Ambiental emergiu em decorrência da visibilidade e da repercussão das ações do movimento ecológico, e foi, aos poucos, sendo assimilada como um campo da educação em geral, e mais recentemente da pesquisa em educação. Nesse sentido, a análise e a produção de conhecimento está conectada com as práticas sociais cotidianas, e se volta para a prática subsidiando novas ações. A diversidade de práticas sociais educativas da educação ambiental é também fruto da história da própria educação.

O que diferencia, entretanto, a educação ambiental é seu enfoque político, que sempre foi essencial à formulação de estratégias pedagógicas em função de uma intervenção para responder à problemática ambiental.

A política em nossas buscas investigativas é pensada como prática formativa e a metáfora da rede possibilita compreender/estudar saberes, fazeres e poderes produzidos nas práticas sociais cotidianas, num movimento de ruptura entre a ciência e o senso comum. Esse é um paradigma que está fundamentado na ideia de que todas as formas de conhecimento estão num mesmo patamar de igualdade, excluindo possíveis formas de exclusão ou de hierarquias.

Em nossas pesquisas nos interessa compreender a articulação dos sujeitos sociais e sua atuação coletiva, no entrelaçamento de contextos escolares e não escolares, num espraiamento significativo do processo de transformação da vida e da formação de identidades.


Foto: Rosinei Ronconi
3. Cartografia social e cultural da educação ambiental dentro e fora das escolas

Na monocultura do tempo linear, a globalização é, muitas vezes, considerada um fenômeno homogêneo que atinge a todos e todas da mesma maneira e os países desenvolvidos estão sempre na dianteira pela ideia de progresso, modernização e desenvolvimento da tecnociência. Esses termos estão relacionados com o pensamento de uma história linear, contínua e de um futuro eterno. Outros países que não estão dentro dessa lógica progressista são considerados atrasados.

Fazemos uma ponte com o pensamento do sociólogo Boaventura de Souza Santos que, para combater a racionalidade ocidental fala de uma sociologia das ausências para a compreensão de realidades não-existentes, invisíveis, não-criveis que cria monoculturas.

Uma delas é a monocultura do saber, do rigor que considera como única forma de conhecimento rigoroso, o saber científico. Como proposta usamos do autor a metáfora da ecologia dos saberes, não para ver como o conhecimento representa, reproduz ou reflete o real, mas como determinado conhecimento produz na realidade. Quais racionalidades vêm sendo produzidas pelas práticas culturais e sustentáveis em processos contra-hegemônicos?

4. A formação em EA

foto: Flávia Nascimento
A formação; parece seguir a fragmentação da educação, definida como atuação das gerações adultas sobre a dos jovens para ficar coextensiva à vida, o que nos remete a pensar em uma formação permanente. A formação, hoje, impõe-se como uma função vital a ser permanentemente exercida.

Nesse sentido, há um prolongamento na formação; parece seguir a fragmentação da educação, definida como atuação das gerações adultas sobre a dos jovens para ficar coextensiva à vida, o que nos remete a pensar em uma formação permanente. A formação, hoje, impõe-se como uma função vital a ser permanentemente exercida. Dialogamos com Gaston Pineau para pensar a formação como um devir dos protagonistas. A concepção fixista do permanente é substituída por uma dialética permanente de mudança. Na formação permanente, a mudança e o movimento contínuo é que são permanentes.

A ênfase na formação em Educação Ambiental, é compreendida como uma rede de contextos, como espaços/tempos de formação desde a formação inicial, estendendo-se à vivência, à atuação profissional, a política, a pesquisa, a militância e à participação em cursos, grupos e eventos. Com isso, não desresponsabilizamos as principais entidades formadoras do compromisso com a formação ambiental.

Essa concepção já traz implícito um processo educativo e formativo que envolve uma reforma do pensamento e das estruturas. Os caminhos e as ideias tornam-se desafiantes e imprecisos, envolvendo a complexidade da Educação Ambiental e de seus contextos. Essa maneira de pensar a pesquisa, a educação e a formação envolve o pessoal e se mistura com o teórico, num movimento permanente e contínuo, recursivo do processo permanente de formação.

O pensamento transdisciplinar inscreve-se nesta perspectiva de abertura, pois pode ser compreendido como um princípio epistemológico que se apresenta em uma dinâmica processual que tenta superar as barreiras do conhecimento mediante a integração de conceitos e metodologias. Optamos para compreender a transdiciplinaridade por entendê-la como uma abordagem que transcende as disciplinas, que tenta entender o que está além. E, para nós a Educação Ambiental preenche este espaço entre, através e além das disciplinas.



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